Por Coltri Jr.
O pulso das palavras
Recentemente terminei um artigo com uma frase do Maiakovski, poeta e dramaturgo Russo, que viveu de 1983 a 1930.
Ele trata, dentre outras, do perigo das palavras usadas para fazer o mal. Por isso, retomo aqui: “sei o pulso das palavras, a sirene das palavras; não as que se aplaudem do alto dos teatros, mas as que arrancam caixões das trevas e os fazem caminhar quadrúpedes de cedro”.
O efeito Zumbi
O fato é que, infelizmente, muitos hoje, inclusive no esporte, estão se comportando como esses caixões das trevas.
Com efeito, ao menor sinal, ao disparo de uma comunicação estratégica, saem espalhando notícias falsas, brigando, agindo como verdadeiros quadrúpedes de cedro, como em um efeito “zumbi” (seres mentalmente dominados, parafraseando Maiakovisk, usando seus lábios sem alma, apenas a carcaça).
Portanto, há insufladores e insuflados. Precisamos resolver e anular esses dois comportamentos.
Os Insufladores
Como temos menos insufladores do que insuflados, podemos começar pelos primeiros:
Dirigentes de futebol, por exemplo, para defender o indefensável, usam da força e do pulso das palavras, para alienar os súditos de seu time e justificar suas derrotas. Quando eu ganho, sou bom, é mérito meu; quando perco, o juiz roubou, é esquema.
Aliás, é sempre bom lembrar que no esporte só é possível 3 resultados: vitória, derrota e empate. Só no último caso, o resultado vale, em parte, para os dois (lembrando que há esportes sem empate). Quando há um vencedor, por motivos óbvios, o outro perde (que faaaase ter que falar sobre isso!!!!).
Por isso, se os dois adversários tiverem um ótimo elenco, um sistema de trabalho bem feito, planejamento, gestão, se não der empate, “surpreendentemente”, um vai ganhar e o outro vai perder!
Desse modo, ir à imprensa e jogar a ideia de que a derrota é por causa do sistema, é hipocrisia.
A grande questão é: pode ser verdade?
Sim, pode, claro! Vivemos em um mundo corrupto. Mas, se há informações sobre isso, faça a denúncia, mostre quem são os culpados, o modus operandi. A justiça está aí para isso.
Agora, jogar para a torcida e deixar pegar fogo é irresponsável. Eu sei, e eles também sabem, qual é o pulso das palavras, a sirene das palavras. E elas levam a atitudes beócias que, por sua vez, trazem finais trágicos.
A coisa é tão forte, que o torcedor briga por algo que não é dele: o time, o clube. A grande maioria nem sócio é! Ele acha que pertence a algo que, na verdade, não lhe pertence. Não vale dar a vida.
Os insuflados também têm culpa
Como resultado disso tudo, temos problema tão sério que, inclusive, esses zumbis (travestidos de torcedores) atacam jogadores. Imagina se a moda pega! A gente começar a bater no funcionário de uma empresa que a gente gosta, só por ele fazer algo que não nos agrada? É o cúmulo! Jogador é profissional, apenas e tão somente. Os que foram apaixonados pelo clube, no passado, ficaram pobres. E, muitas vezes, nem reconhecidos pela entidade, são.
E mais: o jogador é funcionário do clube, não da torcida! Aliás, de novo, se outra moda pega! Imagina que alguém tenha a brilhante ideia de criar uma torcida organizada para as torcidas organizadas no carnaval, por exemplo! Perdeu, desce o cacete! Valha-me Deus!!!
Por isso, fique claro, a culpa não é só dos insufladores, mas também dos insuflados. É chegada a hora de parar de ser papagaio, de falar pela cabeça dos outros, de ser massa de manobra.
O resgate da Alma
Enfim, quem tomar a consciência para si, consegue, sim, deixar de caminhar quadrúpede de cedro. É uma decisão sobre si mesmo. Os nossos dias de glória só virão, efetivamente, quando os nossos dias de luta forem contra nossas impulsividades nocivas, não contra os outros.
Como dizia Chorão, precisamos mais de “sintonia, telepatia, comunicação pelo córtex… bum bye bye!”.
Pense nisso, se quiser, é claro.
Prof. Ms. Coltri Junior é consultor, palestrante, adm. de empresas, mestre em educação, professor e escritor. www.coltri.com.br; Insta: @coltrijunior