Por Coltri Jr.
O Caso Tião
Ao longo de quase 20 anos de coluna, tenho trazido muitos casos de mal atendimento, de problemas organizacionais, de falta de liderança, respeito e educação, seja com clientes, seja com colaboradores.
Teria mais um para desenvolver: o caso da lotérica que continuou seu atendimento por um tempo, após o episódio de falecimento de uma pessoa dentro do estabelecimento.
Ocorreu que havia um corpo estendido no chão e as pessoas na fila sendo atendidas. Chico Buarque traduziu esse pensamento na canção Construção, lançada em 1971: “morreu na contramão atrapalhando o sábado”.
Dessa vez é um bom exemplo (num momento triste)
Mas, hoje, o assunto é outro. É o inverso. No fim de semana, o Tião foi se encontrar com o Papai do Céu. E quem é o Tião?
Acima de tudo, Tião é o eterno garçom da Pizzaria Carlitos, no bairro de Vila Mariana, em São Paulo. Estive lá no fim do ano e, mais uma vez, dentre os mais de 30 que frequento o restaurante, fomos atendidos por ele. Era a personificação do estabelecimento.
De uns tempos para cá, tenho tido o hábito de perguntar o nome dos garçons e, sempre que possível, conversar com eles. Precisamos acabar com essa ideia de pessoas serviçais.
De antemão, essas pessoas têm nome, tem história e estão, sim, para nos servir, assim como estamos para servir aos outros nos nossos momentos de labor.
Por certo que conhecia o Tião, até pelos tantos anos. Mais: minha despedida de solteiro, há quase 30 anos (não são exatos 30 por alguns dias: 25 de junho de 1993), foi lá. Mas, nunca tinha conversado com ele, quisto saber de sua história. Fi-lo em dezembro.
Foi um papo tão gostoso… inclusive ele nos acompanhou até a rua e, ainda, foi ele quem tirou uma foto minha com a minha esposa. Publiquei-a no Instagram com a legenda: “A melhor companhia na melhor pizzaria. Enfim, voltamos”.
Vamos voltar novamente?
E, lógico, mesmo sem o Tião, voltaremos (se o Papai do Céu nos permitir, é claro!). A pizzaria Carlitos faz jus ao nome. É de muita sensibilidade. Pouquíssimas vezes presenciei uma organização valorizar efetivamente (sem conversa fiada, sem auê) seus colaboradores.
Veja, enquanto uma lotérica continua atendendo, mesmo com um corpo estendido no chão, a pizzaria fechou as suas portas em pleno sábado, dia provável de seu maior movimento, pelo luto ao seu colaborador.
É fato que alguns dirão que era o mínimo. Talvez seja, mas é o mínimo que ninguém faz.
E tem mais: qual empresa mantém um funcionário mais de 40 anos em seu quadro? Há uma desvalorização arraigada nas organizações.
Não foi o caso. O Tião estava lá enquanto pôde, firme e forte. E agora continua de outra forma: colocaram, dentro do restaurante, um porta retrato com foto dele.
Enfim, o que é bom também precisa ser alardeado, publicado. Bons exemplos inspiram, engrandecem. Que tenhamos mais profissionais como o Tião e mais empresas como a Carlitos.
Pense nisso, se quiser, é claro!
Prof. Ms. Coltri Junior é consultor, palestrante, adm. de empresas, mestre em educação, professor, escritor e CEO do Hardcore Game Channel. www.coltri.com.br; Insta: @coltrijunior
Frequento a Carlitos desde criancinha, faço parte da terceira geração da minha família que conheceu o simpaticíssimo Tião. Fiquei bastante chateado com o falecimento dele. Minha última ida a pizzaria foi em abril deste ano e ela ainda estava lá sempre com seu sorriso e simpatia. Ainda não tive coragem de voltar lá após sua partida…