Quando Chan Kim e Renée Mauborgne lançaram o livro A estratégia do oceano azul: como criar novos mercados e tornar a concorrência irrelevante, foi gerado um grande “auê” no ambiente administrativo. Já se vão 15 anos e a obra ainda é tida como uma ideia irrefutável. Não é.

Precisamos entender que há vários mundos no ambiente empresarial. Ideias válidas para grandes corporações nem sempre valem para as pequenas. E vice-versa. E há o que vale, também. Administrar é discernimento para escolher. Não há protocolos únicos.

A ideia do oceano azul é importante. Mas causa naufrágios, também. Ela parte do princípio de se encontrar nichos de mercados não explorados e lá colocar sua embarcação, sua empresa, seu negócio.

Oceano azul agitado

O que ocorre é que uma grande percepção de necessidades do outro, nem sempre encontra eco em quem as tem. Somos bons em desejos, mas péssimos em identificar nossas necessidades.

Dessa maneira, muito do que podemos classificar como oceano azul, para dar certo, vai depender de um volume muito alto de investimento em comunicação. É preciso gerar um nível tal de tensão interna no potencial cliente, que faça a transmutação mental da necessidade em desejo de compra. E isso, via de regra, necessita de investimento alto.

Quando quem não tem essa condição entra nessa onda, acaba naufragando. Tem grandes ideias, mas não tem capacidade técnica e financeira para o nível de persuasão necessário. Assim, morrem a ideia e a empresa. Reforço que não rechaço a ideia do oceano azul. Digo, apenas, que não é uma regra inquestionável. Vale para certas condições. Não se aplica em outras.

Quando cheguei aqui em Cuiabá, em 2002, ainda exercia a profissão de cirurgião-dentista. Naquele ano, fui a uma jornada de Odontologia. No evento, foi apresentado o mercado no estado. Não havia cirurgião-dentista em Santo Antônio do Leverger. Pensei: vou montar uma clínica lá. Um amigo meu, amigo do prefeito de lá, falou da ideia com ele. Segundo o gestor municipal, não havia profissional lá porque a maioria das pessoas tratava aqui em Cuiabá. E havia receio, também, já que o último profissional que lá se instalou, deu um golpe em muita gente. Enfim, um oceano azul esperando a primeira embarcação para engoli-la.

Não desejo, aqui, desencorajar ninguém a colocar boas novas ideias em prática. Pelo contrário. O recado é: olhe o sistema, saiba o que tem que fazer. O primeiro passo é o grande filtro: capacidade de persuasão para gerar mercado. E isso pode necessitar de muito investimento. Entre no oceano azul, mas não em barco furado. Mesmo lá, ele afunda.

Pense nisso, se quiser, é claro!

Prof. Me. Coltri Junior é consultor organizacional e educacional, palestrante, adm. de empresas, especialista em gestão de pessoas e EaD, mestre em educação, professor e diretor da Nova Hévila Treinamentos. www.coltri.com.br; Insta: @coltrijunior

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