Por Coltri Jr.

Frases soltas podem ser legais e inspiradoras, mas exigem atenção. O discernimento, a reflexão, o entendimento de cada palavra, o nexo causal, são fatores primordiais para compreendermos as verdades, ou as mentiras, nelas contidas.

Para não cair em armadilhas narrativas, é preciso cuidado com o que se ouve, com o que se vê, com o que se lê (por vezes elas vêm carregadas de ilusão e devaneio).

Ideias são fáceis (será?)

Uma dessas frases difundidas hoje no mundo do empreendedorismo é do Gui Kawasaki (falo pela frase em si, não pelo contexto da obra, nem pela qualidade do trabalho do autor).

Ele diz que ideias são fáceis, a implementação é que é difícil. A segunda parte está correta, a primeira não.

A questão é prática humana a comparação (como no poema Ou Isto ou aquilo, da Cecília Meirelles). O problema é que a levamos para zonas nas quais elas não cabem (nem tudo é comparável).

Criação e Realização

Então fica a pergunta: como fazer sem criar? São fases de um mesmo processo. E mais: há agentes diferentes, com habilidades distintas em cada uma dessas fases.

Lembro que a primeira música que compus, por exemplo, foi uma ideia do meu tio Clodoaldo. Sem a ideia, ela não existiria.

Ainda, há alguns dias, “zapeando” a televisão, sem querer, caímos na novela Terra e Paixão (mais ou menos na lógica do Frejat: “esse meu rosto vermelho, molhado, são só dos olhos pra fora / todo mundo sabe que homem não chora).

Lá, a protagonista (a primeira, a que mais agoniza), fica feliz por conseguir o documento de posse de suas terras. Aí ela vai à janela e solta um grito de felicidade. Meu filho Henrique, publicitário, solta a pérola: é como se ela estivesse gritando: “vai curintia!”.

Juntando a ideia dele, o fato do Timão não conseguir vencer por um longo período, fiquei só na espreita: quando ganhou do Fluminense, no último domingo, editei a cena, e lá estava ela gritando o “vai Curintia!”.

Deu trabalho fazer? Claro! Mas, sem insight, sem materialização.

Não valorizamos as ideias

A questão é que não valorizamos a ideia. Parece que vem do nada. Não é assim. Criar é a capacidade de ligar pontos de conhecimentos já existentes na cabeça da pessoa.

Para o meu tio, toda a história de vida, o gosto pela História do Brasil etc. Para o Henrique, uma faculdade de publicidade, curso de humor, o ser corintiano etc.

Sem isso ou aquilo!

Em suma, na lógica “criatividade, inovação e empreendedorismo”, não há uma fase mais importante do que a outra. Ideia sem concretização não vale nada, mas não se constrói nada sem a ideia.

É como diz Cidade Negra: “sempre que para você chegar terá que atravessar a fronteira do pensar”.

Por isso, pense nas frases, faça uma imagem delas, para que, como dizia Maiakóvski, possamos entender “o pulso das palavras, a sirene das palavras; não as que se aplaudem do alto dos teatros, mas as que arrancam caixões das trevas e os fazem caminhar quadrúpedes de cedro”.

Pense nisso, se quiser, é claro!

Prof. Ms. Coltri Junior é consultor, palestrante, adm. de empresas, mestre em educação, professor, escritor e CEO do Hardcore Game Channel. www.coltri.com.br; Insta: @coltrijunior

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