Daqui e da Lee – por Coltri Jr.
Eu, daqui, recebo de volta as lembranças da minha ligação direta e independente com a música.
A Música na minha infância
Com minha mãe e meu pai, sempre ouvi música. Junto a ela, sempre com seu radinho na cozinha pela manhã, na hora do almoço e enquanto arrumávamos a cozinha após a refeição.
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Com meu pai, nas tardes de sábado, quando colocava seus LPs para tocar na sala, deitava-se no chão e lá passava horas (tendo que levantar a cada 20 minutos, claro, para trocar o disco de lado, ou colocar outro).
Daqui e da Lee: O Encantamento com a Rita
Eis que do rádio, uma voz e um tipo de música me encantavam: era Rita Lee (com Baila Comigo, Mania de Você, Shangrilá, Doce Vampiro, dentre outras).
Aí, junta o momento da expectativa pela democracia, a própria Democracia Corintiana, o futebol daqueles gênios da bola, Sócrates, Casão, Wladimir, etc., isso tudo, daqui, fortaleceu de vez minha relação com a obra da Rita. Foi da Lee que tudo começou.
Na terça, com sua passagem, essas coisas, guardadas lá no íntimo da minha lembrança, voltaram. Vale lembrar que na “antiguidade” (durou até meados dos anos 2000) havia um dispositivo de nome fita K7.
Acumulei centena delas. Tenho vívida, agora, a lembrança de como tudo começou: a minha primeira fita foi um show da Rita Lee, na TV, gravado com microfone próximo ao autofalante da televisão. Que fase! Todo mundo tinha que ficar quieto para que a voz não fosse também captada pelo microfone.
Ainda, naquela época, minha avó materna, Hermínia (que também era minha madrinha de batismo), iria me dar um presente de aniversário e perguntou o que eu queria. Falei: um disco da Rita Lee ou da Blitz (também gosto demais da banda, até hoje). Seria a realização do sonho de ter meu primeiro disco.
Minhas tias, que foram comprar em nome da minha vó, optaram pela primeira. Ou seja, além da fita, meu primeiro LP também foi da Rita. Era uma obra de infinita grandeza para o momento do país.
Tinha canções como Brasil com S, Flagra, Barata Tonta, Barriga da Mamãe, além da lendária Cor-de-Rosa Choque (assim que é escrita como título). Da Lee para frente, daqui, foi amor infinito.
O Circo – Que Leitura de Mundo!
Para terminar, deixo aqui uma daquelas histórias musicadas que, praticamente, só quem tem o disco conhece (ou se lembra). É uma leitura de mundo, dela e do Roberto, que serve (muito) para os dias de hoje, intitulada O Circo:
“Era uma vez um palhaço que andava sempre chorando por causa da bailarina, que namorava o trapezista. Nem de pierrot nem de arlequim, ela não via graça nele, que se trancava no camarim, até o circo acordar. Dentro do globo da morte, alguém arrisca a vida por um minuto de glória, pra esquecer toda tristeza. O engolidor de espadas quer arrepiar todo cabelo. E a obediência dos animais faz a plateia dizer: ‘oohh!!’. Um dia a mulher barbada, que era gamada no domador, chamou o mágico e disse: ‘faça abracadabra pra virar amor’. Mas nem sempre é possível ter um final feliz pra animar. E lá no meio do picadeiro, o show não pode parar”.
Se da Lee, ela se foi, daqui, o show dela não vai chegar ao fim.
Prof. Ms. Coltri Junior é consultor, palestrante, adm. de empresas, mestre em educação, professor, escritor e CEO do Hardcore Game Channel. www.coltri.com.br; Insta: @coltrijunior